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Dá quase pra sentir o gosto só de olhar, não dá? |
As armadilhas da mente
A mente humana é mesmo muito
interessante. Os efeitos que as coisas que aprendemos e que aquelas que nos
fizeram acreditar podem ter nas nossas vidas são tão fortes que, por vezes,
acabam regulando nosso modo de viver. Quantos não se abstêm de uma experiência agradável
por puro medo irracional, e quantos não agem de maneira tola, de forma
retrógrada, unicamente por receio de mudar?
Isso ocorre o tempo todo no mundo
do fitness. Quantos não são aqueles que obedecem a conceitos ultrapassados, que
acreditam em dogmas antigos e que consideram uma forma quase de heresia não
seguir tais diretrizes?
Tomemos a nutrição como exemplo, e façamos um pequeno teste. Eu vou citar algumas comidas e você vai respondendo mentalmente quais delas você acha que são “boas comidas” e quais são “comidas ruins”.
- Peito de frango. Provavelmente boa, não é?
- Vegetais. Boa?
- Queijos magros. Boa de novo?
- Azeite de oliva. Deixe-me adivinhar: Boa, de novo.
- Pizza. Ruim!
Alguns podem já ter enxergado o
contra-senso. Para os que não enxergaram, vou dar mais cinco segundos para
olharem fixamente para a lista acima com cara de que não entenderam onde eu
quero chegar.
Por que, por que todas essas
comidas consideradas “limpas” e “boas”, quando juntas, se tornam “lixo”? Algum
de vocês consegue me dar uma explicação razoável para o fato de que nós
consideramos essas comidas, separadamente, ótimas opções e, quando juntas, uma
péssima opção? Em minha opinião, isso é um trabalho sujo da nossa mente.
O conceito de comida “boa” ou
“limpa” é algo muito abrangente, incerto, varia muito com o tempo e incorre em
muitas falhas. O que é uma comida boa? Comida não-processada? Ser vegetariano
é comer bem? Não comer doces é comer bem? Outro dia, um amigo me falou que
estava com uma ótima dieta. Só comia coisas saudáveis e não-processadas, não
comia carne de gado por causa do excesso de gordura e não comia nenhum
carboidrato à noite, nem fruta. De suplemento, só tomava uma whey. Agora
analisemos: Primeiro ponto: Whey não é comida processada? Segundo ponto: Para um
adulto bem desenvolvido, ativo, praticamente de esportes e de musculação, com certa
quantidade de músculos e um metabolismo diferente do da “média”, será mesmo que
algumas poucas gramas de gordura saturada a mais serão prejudiciais à saúde? Ou
será que o corpo irá aproveitar a sua necessidade especial pra esse tipo de
material e, dessa forma, se beneficiar dele? Terceiro ponto: Não comer fruta à
noite para não engordar? Além de ter feito de uma fruta uma comida ruim (isso
que é heresia hehe), ainda quis dar um nó nas leis da termodinâmica: em outros
horários, pode, mas à noite, engorda? Que diabos.
Como anteriormente explicado,
nosso corpo tem uma necessidade energética diária, que varia de acordo com
inúmeros fatores (por exemplo, seu grau de atividade, seu sexo, sua idade, sua
quantidade de massa etc). Você acumula gordura quando ingere uma quantidade de
energia maior do que a que você gasta. Claramente, isso é um mecanismo
evolutivo e muito útil para a sobrevivência em tempos onde comer era muito mais
difícil do que abrir a geladeira e pegar um lanche rápido ou passar numa
lanchonete. O difícil acesso à comida fazia com que fosse interessante e
necessário para a sobrevivência o estoque de energia (na forma de gordura) para
ser gasto nos períodos de escassez. Por sua vez, quando chegavam esses
períodos, se ingeria muito menos energia do que se gastava e o corpo ia
gastando suas reservas para continuar “funcionando”. Entendendo esse processo
fica fácil entender que o acúmulo de gordura só é possível com um balanço
energético positivo e a perda de gordura com um balanço energético negativo.
Não existe a possibilidade de ganhar magicamente gordura a depender do horário
em que você come tal comida, isso vai contra a termodinâmica. Comer
carboidratos à noite não vai lhe engordar, contanto que você ingira calorias
iguais à sua taxa de “manutenção” (balanço energético nulo, zero) ou menos do
que isso.
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E essa? É uma comida boa? |
Nosso corpo não é um computador
Ele não escaneia tudo o que você
come para separar por grupos e (inconvenientemente) guardar como reserva de
energia um material que ele precisaria utilizar como fonte de energia naquela
mesma hora. Ele não separa alimentos por índice glicêmico ou meticulosamente
separa cada alimento em grupos de gorduras, proteínas e carboidratos. Não tem
como fazer isso, não existe Scanner no nosso estômago, existe? Então se
acostume com a ideia: Quando ingerimos uma refeição contendo vários tipos de
alimentos misturados, nosso corpo vai digeri-los juntos. É por isso que o
índice glicêmico dos alimentos, para quem é saudável, em termos de composição
corporal importa muito pouco. Se você faz um almoço com um corte de carne
vermelha, arroz branco, vegetais folhosos, e depois toma uma casquinha de
sorvete de sobremesa, o índice glicêmico da refeição como um todo provavelmente
não será tão alto. Deu pra entender?
Uma caloria é uma caloria
De um ponto de vista de
composição corporal, se você cumprir suas necessidades protéicas, contanto que
o balanço energético seja igual, pouco importa de onde vêm as calorias: de
batata doce ou de picolé, as mesmas quantidades de calorias vão lhe fazer
ganhar ou perder peso da mesma forma.
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Você tem coragem de chamar isso de "lixo"? Shame on you... |
A água pode lhe enganar
A “flutuação” do nível de
retenção líquida pode ser um pé no saco para quem se olha no espelho. Já
comentei isso antes em algum tópico, mas para quem não leu, o acúmulo de
líquidos pode lhe fazer ganhar ou perder peso de uma maneira muito rápida, de
um dia para o outro. Muito do peso que se perde quando se fica doente ou quando
se perde noite é líquido. Muito do peso que se ganha quando você vai naquele
rodízio e come até passar mal é líquido. Poucos dias depois, se sua dieta
voltar ao normal, você se livrará desse acúmulo.
O problema é que muitas das
comidas consideradas como “lixo” são também comidas que causam um aumento
expressivo no nível de retenção. Dessa forma, muitos desavisados têm a
impressão de que jogaram toda uma semana de dieta fora ao comerem um pedaço de
pizza no final de semana e acordarem retidos na segunda-feira. Voltando à dieta
normal, lá pela quarta-feira é provável que o peso tenha voltado ao normal. Mas
novamente, nossa mente nos prega peças...
Eu quero é prova e 1 real de
big-big
Apesar da corrente de pensamento
ser relativamente nova e a maioria da “velha-guarda” ainda ir de encontro a
ela, já existe muito material sobre isso na interwebs. Se você procurar pela
sigla IIFYM (If it fits your macros), certamente achará muita coisa. Este texto
de Alan Aragon (que por sinal é de 2006) analisa de forma imparcial e trás
conclusões sobre o índice glicêmico.
Há alguns anos, Mark Haub,
professor da Kansas State University provou através de um experimento conhecido
como "The Twinkie Diet" que não importa o que se come e sim o balanço calórico
negativo para emagrecer: Em dois meses Mark perdeu 27lbs (Cerca de 12kg),
diminuiu o “colesterol ruim” (ruim?) em 20% e aumentou o nível de HDL em 20%.
Os adeptos do jejum intermitente (inclusive
eu) juram comer refeições de mais de 1500-2000kcal de uma vez só, às vezes (e
de fato comem...), e mesmo assim muitos deles têm corpos invejáveis. Se duvida,
o site de Martin Berkhan (Leangains.com) está cheio de relatos dos IFers (IF =
Intermitent Fasting = Jejum Intermitente).
Eu não advogo uma dieta de "lixo"
Penso que deixo extremamente
claro quando digo que não defendo uma dieta composta apenas por alimentos
“ruins”. Pelo contrário, reconheço a imprescindibilidade de uma dieta bem
balanceada. Entretanto, a beleza está no meio, senhores. Não precisa comer só
porcaria, nem precisa ser o radical-extremista-internético das comidas limpas.
Contanto que você consiga encaixar nos seus macros do dia, qual é o grande
problema em comer um pouco de sorvete ou uma carne um pouco mais gorda para
manter a sanidade mental e viver mais feliz?
Então como fazer?
O que alguns autores indicam e eu
acho uma diretriz muito justa é aplicar a regra dos 80/20. Ou seja, 80% da sua
alimentação devem vir de fontes consideradas “limpas”, enquanto os outros 20%
podem vir das fontes “sujas”. Como você fará isso, você que escolhe.
Particularmente, eu prefiro inserir uma ou outra coisa em cada refeição (ex:
uma bola de sorvete depois do almoço) do que ter, por exemplo, um “dia do lixo”.
Dessa forma, consigo controlar melhor os macronutrientes, acho mais difícil me
perder nas “contas”, sinto menos fome por já estar comendo outras coisas (e,
portanto sinto menos vontade de comer mais e mais “besteiras”) e eliminei os
meus ataques de gordice que tinha vez ou outra, quando reservava um dia para
ser o “dia do lixo” e ingeria quantidades brutais de comida para “compensar” os
outros dias de comida sem graça.
Somando tudo.
"Comer 'limpo'" e "comidas 'boas'” são
mitos. Não existe nada proibido para você comer, em termos de composição
corporal. O índice glicêmico dos alimentos é relativo e varia a depender da
situação em que estes são ingeridos. Carboidratos depois das 18h não engordam,
contanto que você preste atenção no grande esquema e não ultrapasse a sua faixa
calórica de manutenção. Da mesma forma, comidas tidas como “lixo” não são
proibidas, contanto que você consiga encaixá-las nos seus macronutrientes para
ajudar a manter a sanidade mental e não se metamorfosear em raposa de tanto
comer frango. Claro, como tudo nessa vida, a moderação se faz necessária.
Para finalizar...
Infelizmente, o post saiu bem maior do que eu pensava e provavelmente ainda haverá uma continuação depois. Peço desculpas por estar demorando de postar, mas ultimamente tá f... Por último, o de sempre: Gostou do blog? Inscreva-se no nosso feed, colocando o email ali do lado, e fique sabendo das novidades. E não exite em passar adiante, minha meta é ajudar o máximo de pessoas que puder em seus objetivos. :)
Um grande abraço!
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