terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O Mito das Comidas "Boas" - Parte II


É difícil errar comendo assim... Mas não é impossível : -)



Em minha casa nunca faltou salada na hora do almoço. Nunca faltaram frutas, ninguém nunca pulava um café da manhã e, ainda assim, todos tinham “sobrepeso”. Já eu era, de fato, gordo mesmo.

Apesar de ter me envolvido cedo com o esporte, eu sempre fui aquela criança meio gordinha e, pior ainda, com pouca força. “Skinny-fat”. Por causa disso, não tinha a mesma agilidade nem a mesma resistência que meus colegas e (que surpresa, hehe) acabava sendo sempre um dos últimos escolhidos na hora de tirar o time na quadra.

Mas como isso era possível? Enquanto a maioria dos meus colegas se entupia de “besteiras” o dia todo, eu tinha meus pais sempre junto a mim controlando minha alimentação, dizendo o que eu podia e o que não podia comer, e mesmo assim eles eram magros e eu gordinho. Ficava pensando que tinha sido amaldiçoado por uma genética terrível. Onde estava meu problema?


Um pouco da minha história. 

No meio da minha adolescência conheci o treino com pesos. Treinava o mais pesado que conseguia (com um volume monstruoso, naquela época) e continuava gordinho, mesmo tendo uma alimentação na maior parte do tempo composta de coisas saudáveis. Comecei a estudar sobre nutrição para tentar descobrir meu problema, já que não queria admitir que justamente eu tivesse uma genética de merda.

Nessa fase, qualquer coisa viraria uma justificativa para a minha redondice. “Ah, com certeza o que está me engordando é comer carboidrato à noite”. “Nossa, tenho que parar com os carboidratos de alto índice glicêmico porque eles me engordam”. “Não, não é gordura, é que eu retenho líquido”. “Na verdade eu estou gordo porque estou comendo fruta à noite e por causa disso eu perco massa magra e ganho gordura, tenho que começar a comer uma proteína de lentíssima absorção para continuar construindo massa muscular enquanto durmo”. Você está enxergando onde eu quero chegar: QUALQUER coisa viraria uma justificativa e eu aceitaria de cabeça baixa... Afinal, é ciência. E também, aquele cara da academia que me falou, e ele é um cavalo! Provavelmente ele sabe das coisas... Ou não.

O que eu não parava para enxergar é que ao mesmo tempo em que eu seguia uma dieta “saudável”, cronometrada, com alimentos “bons” encaixados nos horários “certos”, eu estava ingerindo uma quantidade de calorias que faria um urso pensar em entrar pros vigilantes do peso. De manhã, ao acordar, a primeira coisa que eu fazia era um shake com leite (desnatado, porque integral tem gordura, né), algumas bananas, alguma proteína em pó, uma tonelada de aveia, e mel ou nescau (afinal, meu corpo estava sofrendo um catabolismo monstruoso depois de uma noite de sono e eu precisava de algo de alto índice glicêmico para mandar a insulina para as alturas), ao mesmo tempo em que comia o que tivesse de frutas na mesa e um ou dois sanduíches de queijo e ovos mexidos. No colégio, no meio da manhã, obviamente eu tinha que comer alguma coisa, afinal ficar mais de 3 horas sem comer era uma heresia, ia me fazer perder minha massa muscular. Tomava um copo gigantesco de suco ou um salgado gorduroso. No almoço, novamente, fazia uma montanha que nem todo alpinista escalaria, e mandava tudo pra dentro com uma tonelada de suco. No meio da tarde, tinha que me alimentar bem, já que era minha refeição de antes do treino, então fazia normalmente algo parecido com o café da manhã. Depois do treino, novamente um shake de proteína em pó, leite desnatado, banana, mel ou achocolatado (ou malto ou qualquer coisa que, na minha cabeça, mandaria minha insulina para as alturas) o mais rápido possível para aproveitar a minha janela de oportunidades e crescer como se não houvesse amanhã. Antes de dormir, obviamente, como eu queria meus níveis de insulina baixos, eu cozinhava ovos e comia as claras, sem sal, e tomava uma ou outra colherinha de azeite pura, quase botando tudo pra fora, mas “no pain no gain” né, tinha que fazer pra ficar grande né. Espero que notem as ironias nesse parágrafo e não achem que foram dicas. Eu furo os olhos de vocês se vocês acharam que foram dicas, eu furo seus olhos!

Entretanto, com o passar do tempo eu não crescia monstruosamente, não ficava monstruosamente mais forte e, ainda por cima, engordava mais e mais. Como dá pra perceber, minha dieta era, nos termos que a maioria usa, composta de alimentos “bons”. Mas eu comia tanto, mas tanto, ingeria tantas calorias, que ao mesmo tempo em que ganhava um pouco de massa muscular, ganhava uma quantidade de gordura muito maior.

E isso foi virando uma bola de neve. O erro não podia ser nos alimentos, tinha que ser comigo. Eu corria de doces como o diabo corre da cruz, e cada vez que eu “escapulia” e comia algo que estivesse fora da dieta ou no horário errado, eu me sentia culpado, passava o dia com uma sensação péssima. Em uma época, cheguei a pensar na atividade física como uma válvula de escape que justificasse comer coisa ou outra. “Eu corri por vinte minutos na esteira, então eu mereço totalmente esse pedaço de bolo, né”? “Eu treinei pesado hoje então não tem problema se eu comer essa pizza”...

Uma pausa aqui. Se você é assim, procure tratamento urgentemente. Eu estou falando sério, isso não é saudável e apesar de eu ter conseguido me livrar desses pensamentos, conheço gente com sérios distúrbios psicológicos por causa desse tipo de comportamento. Isso NÃO é saudável. Acredite, quando eu escrevo em caixa alta e, ainda por cima, em negrito, o negócio é sério como a porra.


O desfecho.

Eventualmente, comecei a me interessar por fontes de estudos diferentes das habituais. Deixei um pouco as revistas de musculação e a “mainstream” de lado e comecei a pesquisar sobre pessoas com hábitos completamente diferentes. Pessoas que ficavam em jejum por muitas horas e ainda assim eram muito fortes. Pessoas que comiam besteiras diariamente e ainda eram rasgadas até o osso (infelizmente, respeito e credibilidade na academia não são ganhos por conhecimento, são ganhos por medidas de braço e peito). Eu queria ser daquele jeito também. Então comecei a estudar o que parecia ser batido lá fora, mas quase nunca discutido por aqui no Brasil. Comecei a ler artigos que me convenceram de que a quantidade de refeições por dia e o índice glicêmico dos alimentos pouco importam. Que o horário em que você come cada coisa também pouco importa, embora seja interessante distribuir sua nutrição ao redor do horário do seu treino. Que o imenso volume de treino que eu usava antigamente não estava me deixando evoluir e, principalmente, que para um plano de dieta bem sucedido, eu teria que aprender a contar as calorias e os macronutrientes, saber o que eu estava ingerindo e controlar isso.

No começo pode parecer chato. Mas quando se pega a prática,
contar macronutrientes torna-se, talvez, a forma mais eficiente de controlar sua dieta.


Ter o físico que você quer é muito mais simples e muito mais difícil do que você provavelmente pensa. Simples porque se você levantar pesos desafiadores consistentemente, controlar sua ingestão de macronutrientes de uma maneira eficiente (o próximo post falará sobre isso, eu acho) e der tempo ao tempo, você vai se surpreender com os resultados. Difícil porque levantar pesos desafiadores é uma batalha diária. É algo que poucos estão dispostos a fazer (e se quiser provas é só procurar na sua academia quantos preferem os halteres coloridos, os exercícios com milhões de cabos e polias, e quantos preferem ficar em baixo de uma barra pesada carregada de anilhas para fazer exercícios compostos).

Não adianta ser paranóico com sua dieta ou seu treino. Para quem está “natural”, os resultados vão demorar de vir. Isso é fato. Alguns autores advogam que no primeiro ano de treinamento, se tudo for feito da maneira ideal (o que é muito difícil na prática), um homem pode ganhar cerca de 12kg de massa muscular no primeiro ano de treino. Isso é uma média de 1kg de massa muscular por mês, SE tudo for feito da forma mais perfeita. Então não adianta pressa, não adianta se entupir de comida para ver o peso subir ligeiro, nem adianta procurar o treino mais estafante, mais matador, mais destruidor das galáxias para aniquilar todos os ângulos dos seus bíceps.


Somando tudo: 

Conte as calorias, conte os macronutrientes, treine pesado de verdade (e de forma inteligente) e pare de se preocupar com o que você não precisa. No começo, até você pegar a prática, contar as calorias e os macros das suas refeições pode parecer um trabalho chato e complicado. Mas depois que você pega a prática, torna-se um eficiente meio de controlar a sua dieta e saber se você está indo no caminho certo. Se você tornar isso um costume, chegará a hora em que você fará até mesmo sem pensar, de cabeça. Mas até lá, seja metódico: anote os macronutrientes e as calorias do que você come, ou você poderá estar trilhando um caminho para o fracasso na sua dieta. 


Para finalizar...

A vida é muito curta para se preocupar com índices glicêmicos e elaborar horários para cada comida. Seja consistente e se preocupe com o longo termo, com o final da maratona. Concentre sua atenção no que merece o seu tempo. Para mim, ser feliz comendo o que gosto e não parecer mal-humorado e miserável ao longo do dia é definitivamente algo que merece minha atenção. E para você?



Se você chegou atrasado e perdeu a primeira parte, olha ela aqui!

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